► Bornal - 2017

Troféus // acrílico s/tela // 2017





Bornal

29 Abr a 10 Jun, 2017
Galeria Quadrado Azul
Porto







Vista geral


































Pilhas balcãs // acrílico s/madeira // 2017







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Tenda & Bornal // acrílico s/tela // 2017





Paisagens balcãs // acrílico s/tela // 2017





"A memória é o recuo da seta ao ser disparada. É no recuo que o movimento para diante encontra o impulso que lhe dá uma direcção e uma velocidade. No entanto, a história dos Homens é pautada por uma repetição de erros que a tornam irremissível, como uma seta disparada ao acaso, sem mira nem recuo. 

Na sua exposição Bornal, Isabel Ribeiro regressa ao trabalho pilha polaca, apresentado em 2015 no Centro Cultural Vila Flor, para desenvolver um trabalho que, mais do que regressar a um tema, aponta para a sua contínua contemporaneidade. Bornal é o nome dado à sacola utilizada pelo viajante para transportar objectos, geralmente de uso prático, como ferramentas ou bens de primeira necessidade. No contexto da deslocação de populações em massa, é frequente que o bornal contenha apenas um objecto cuja utilidade prática, num contexto em que a sobrevivência é prioritária, se substancia no verbo recordar

A partir dessa observação, podemos assumir que a memória é a condição necessária para continuar [andar para trás para poder andar para a frente]e que a memória humana tende a objectificar-se, numa exteriorização que cede uma materialidade a algo de imaterial. [A materialidade dá-nos uma paradoxa ilusão de perenidade]. 

As obras que integram Bornal representam duas configurações visuais: a acumulação e o movimento. Se a primeira remete para o modo como a memória opera, numa incessante sobreposição de elementos que, nessa acumulação, vão dando forma a oscilantes palimpsestos, a segunda dá-nos a representação visual da deslocação. [Memória e movimento são as duas paisagens da sobrevivência.]

Outras obras evidenciam a posição da testemunha distanciada, que tenta compreender o que observa através de desvios e metáforas que activam pontos de fuga perante uma realidade indecifrável. Em confronto com o carácter assertivo da memória, a ficção produz aberturas de sentido. A tentativa de leitura da realidade corresponde ao ponto de partida para uma inversão das suas fórmulas. Na procura de um sentido para os objectos, estes transfiguram-se noutros objectos, agora desviados do seu contexto de sobrevivência. Essa deslocação para o âmbito da ficção aponta para a possibilidade de começar de novo. 

[Ao ser puxada para trás, a seta concentra uma energia. Essa energia chama-se futuro.]"


Maria Beatriz Marquilhas



Fotografia: 
Nuno Ramalho