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Encaixe // Óleo s/tela s/madeira // 2010 |
Encaixe
in, Tough Love - Uma série de promessas
30 Set a 20 Nov, 2010
Plataforma Revolver
Lisboa
Curadoria: Shaheen Merali
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Família // Óleo s/tela // 2009 |
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Tendão III // Óleo s/tela s/madeira // 2007 |
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Tendão II // Óleo s/tela s/madeira // 2007 |
Encaixar uma série
Quando um trabalho se inscreve maioritariamente na trama entre o indivíduo e o lugar que habita enquanto criador, encontrar nele uma linhagem emocional não é tarefa difícil. O caminho por entre a trama processa-se por tentativas e como tal, algumas quebram e falham e outras resistem, trazendo consigo as memórias das que fracassaram.
Encaixe, apresentada agora em Tough Love – Uma série de promessas, inclui-se nessa linhagem emocional e faz parte de uma série de pinturas desenvolvida desde há cerca de oito anos, que acompanha paralelamente o restante trabalho, denominada Paisagens nocturnas.
A máquina fotográfica é uma ferramenta processual essencial nesta série, que difere das restantes por representar directamente o real – sem deslocamentos, sem reenquadramentos e sem substituição ou anulação de elementos – distorcido apenas pelas contingências da técnica. A tarefa de arquivar fotografias revela padrões e são estes que posteriormente se fixam em tela: bares vazios ou a esvaziar, divisões iluminadas por uma luz ténue proveniente da televisão ou do exterior, pormenores urbanos ou cidades inteiras. Instantâneos quotidianos que reúnem em si duas temáticas tradicionais na história da arte: a paisagem e o retrato – são espaços interiores e exteriores onde, da cor negra que domina, se vislumbra parcial e intuitivamente um contexto: aquele a partir do qual se desenvolve o resto do trabalho, onde o processo criativo se inicia.
O bar representado em Encaixe serve de apoio à Caixa Económica Operária em Lisboa, uma cooperativa de cariz social fundada em 1887. Sofreu naturalmente transformações ao longo do tempo e nos anos oitenta destacou-se como palco de concertos incontornável no movimento punk português, mas progressivamente foi perdendo vigor a par com o próprio movimento.
Hoje, a Caixa assemelha-se a um novelo intrincado de memórias, donde se tenta resgatar a suor aquelas que se querem ver actualizadas – onde cada concerto é uma tentativa, não de sobrevivência, mas de resistência.
Isabel Ribeiro, 2010